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Mostrando postagens de maio, 2021

LÉO

               Me arrasto por debaixo da cama por causa da dor em espiral na cabeça. O nervo trigêmeo é o que mais incomoda. O cachorro acha que estou brincado. Encontro um  scarpin no meu caminho até a porta. Não posso pedir ajuda antes de sumir com o corpo daquela mulher.                 O corpo meio iluminado pelo sol, estendido na transversal, aponta à estante de livros. Toco num dos pés dela, está congelado. Quando as pancadas na porta começam, o terror que sinto que dificulta meu raciocínio, a dor pesa e me atrapalha.              V ão chegar, não há tempo!                A s nuvens cobrem a luz do sol, sinto aquela sensação de desprendimento do espírito, mas não acontece nada. É tarde demais, ouço o som da madeira da porta sendo partida.                Quando o cachorro para de latir para cheirar minha ferida, agarro ele e tento a sorte.               U ma grávida estrangulada e um homem com a cabeça fendida por um disparo de arma de fogo. É improvável que descubram o que acont

ESTRANHO

             Meu senso  moral, criatividade, espontaneidade e capacidade de resolver problemas estão de acordo com o que para mim é realização pessoal. Não tenho preconceitos e aceito os fatos.                 Enfim encontro uma moeda no estacionamento.                Bebo um cafezinho na entrada. Compro um bolinho inglês e como na frente da locadora. A porta automática abre e entro para ler textos nas capas. O balconista me vê agachado, segurando um clássico de F.W. Murnau. Ele me dá dinheiro para entrar no seu carro.                Quando saio a casa continua fechada. Já fazem dois dias. Pulo o muro e tenho acesso a área de serviço. Aproveito e separo as roupas na máquina de lavar.                Reconheço um barguenõ na sala. Numa gaveta há um relógio de bolso com uma corrente de aço. Tem comida na dispensa e roupas muito bonitas no quarto. Me deito num sofá em veludo cotelê e pego no sono.               Um rosto colossal me observa q uando acordo, d epois do vermute. Pensei que não

TRILHOS DE TREM

               O trem fantasma deixa um rastro de fuligem pelo caminho. Uma trilha alta e escura que demora a se abater.                O maquinista não conta o destino, e jamais diminui a velocidade. Quando uma criança se assusta e abraça sua perna torta, ele a ergue pelos cabelos e joga no fogo.                "Mais uma. Mais uma. Mais uma."                A tampa fecha e o fogo continua sem parar pelos tubos da fornalha, impulsionando a máquina regulada para o máximo.                  A luz do sol não esquenta o suficiente.                No caminho a tripulação vê os restos dos que se arriscaram pelo deserto.                Até as crianças sabem que sempre haverão trilhos de trem.