A ESTÉTICA DO FATO

As técnicas literárias no meio noticioso

Truman Capote, grande nome do "new journalism"

         New journalism (ou novo jornalismo) é o nome dado ao estilo de texto jornalístico que segue padrões literários quando reporta os acontecimentos. "A estética do fato", como dizia o jornalista brasileiro Alberto Dinis. O estilo ganhou popularidade na década de 50 com o artigo sobre o ator Marlon Brando, "O duque em seus domínios", escrito por Truman Capote para a revista The New Yorker.

        "A escrita tem as suas próprias leis de perspectiva, de luz e de sombras. Como a pintura e a música. Se nasces com elas, perfeito. Se não, aprende-as. Em seguida, reorganiza as regras à tua maneira" - Truman Capote.

        Ao lado de Truman Capote, Gay Talese, Norman Mailer, e Tom Wolfe são outros ícones do new journalism. Para Wolfe, o objetivo da técnica é oferecer ao leitor um texto tão emocionante quanto uma trama ficcional.

        Os primeiros parágrafos que Gay Talese escreveu para a revista Esquire, em abril de 1966, a respeito de Frank Sinatra, servem como um ótimo exemplo de novo jornalismo:

Frank Sinatra está resfriado 

Gay Talese 

       Frank Sinatra, segurando um copo de bourbon numa mão e um cigarro na outra, estava num canto escuro do balcão entre duas loiras atraentes, mas já um tanto passadas, que esperavam ouvir alguma palavra dele. Mas ele não dizia nada; passara boa parte da noite calado; só que agora, naquele clube particular em Beverly Hills, parecia ainda mais distante, fitando, através da fumaça e da meia-luz, um largo salão depois do balcão, onde dezenas de jovens casais se espremiam em volta de pequenas mesas ou dançavam no meio da pista ao som trepidante do folk rock que vinha do estéreo. As duas loiras sabiam, como também sabiam os quatro amigos de Sinatra que estavam por perto, que não era uma boa ideia forçar uma conversa com ele quando ele mergulhava num silêncio soturno, uma disposição nada rara em Sinatra naquela primeira semana de novembro, um mês antes de seu quinquagésimo aniversário. 

        Sinatra estava fazendo um filme que agora o aborrecia e não via a hora de terminá-lo; estava cansado de toda a falação da imprensa sobre seu namoro com Mia Farrow, então com vinte anos, que aliás não deu as caras naquela noite; estava furioso com um documentário da rede de televisão CBS sobre a vida dele, que iria ao ar dentro de duas semanas e que, segundo se dizia, invadia a sua privacidade e chegava a especular sobre suas ligações com os chefes da máfia; estava preocupado com sua atuação num especial da NBC intitulado “Sinatra - Um Homem e Sua Música”, no qual ele teria de cantar dezoito canções com uma voz que, naquela ocasião, poucas noites antes do início das gravações, estava debilitada, dolorida e insegura. Sinatra estava doente. Padecia de uma doença tão comum que a maioria das pessoas a considera banal. Mas quando acontece com Sinatra, ela o mergulha num estado de angústia, de profunda depressão, pânico e até fúria. Frank Sinatra está resfriado. 


Norman Mailer e Muhamed Ali

       Só para fugir a regra dos arrumadinhos do new journalism, que são quase todos os autores clássicos desse estilo, preciso fazer menção a Norman Mailer, que representa mais o cidadão comum, tanto no comportamento como na maneira de se vestir. Norman chamou a atenção em 1948 com seu livro "Os Nus e os Mortos", falando sobre suas experiências na segunda guerra mundial, e foi duas vezes vencedor do prêmio Pulitzer, com "Os Exércitos da Noite", sobre as manifestações contra a guerra do Vietnã, e "A Canção do Carrasco", a história do condenado a morte, Gary Gilmore. Mailer gerou polêmica na década de 70 ao supor no seu livro "Marilyn", que o FBI e a CIA teriam agido em conluio para assassinar Marilyn Monroe.

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