QUERO MEU DINHEIRO

Fonte: Ben Jerry

        Em meio a toda aquela papelada estava o bendito registro que há tanto tempo ele procurava. Tinha conseguido entrar, com muito esforço, pela pequena janela do corredor, escorregado para cima do bebedouro, como um gato, só para chegar até ali. Já havia vasculhado a maioria da gavetas, e estava na metade do primeiro arquivo de ferro, quando a porta de abriu. Ele devia ter lembrado de trancá-la.

       - É uma pena eu não estar armado - disse o homem parado na porta. Um senhor de baixa estatura, com uma protuberante barriga. Seria muito fácil para o invasor nocauteá-lo com um tapa.

       - Quero meu dinheiro - diz o homem, segurando um calhamaço de folhas de pagamento. 

       Foi um grande salto para cima da mesa, chutando tudo que havia lá em cima. Ele derrubou o computador, o organizador, o porta canetas e a caneca, e nem precisou empurrar o homem da entrada, porque esse sumiu de vista. Agora era só ele e um longo corredor.

       As câmeras registraram tudo. Um homem negro, alto e forte, correndo com um calhamaço de folhas de pagamento debaixo do braço direito.

       Segundo a pesquisa "A Distância que Nos Une – Um retrato das Desigualdades Brasileiras", da ONG britânica Oxfam, brancos e negros só terão uma renda equivalente no Brasil, no ano de 2089. Frustrado com essa notícia, esse homem se viu impossibilitado de esperar tanto para receber o que lhe era direito.

       Além do salários menores, mais da metade dos negros garante já ter sofrido racismo no ambiente de trabalho. Muitos deles até dizem ter alisado ou raspado os cabelos para serem melhor recebidos pelos colegas de serviço.

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