NO FORRO
Eram barulhos ininterruptos vindo do forro da casa. - Gabriel, é você? O calmante que tomo, misturado com bebida, às vezes afeta a memória. Peguei a escada na garagem para abrir a tampa do forro. Havia muita sujeira, um antigo abajur de bronze maciço, uma caixa com luzes de natal, e bem lá no fundo, num canto escuro, grandes olhos de um negrume indescritível olhando dentro de mim. Na pressa de fugir, me estatelei no chão e derrubei retratos que estavam na parede. Sentindo o perigo eminente que poderia vir atrás de mim, levantei o mais rápido que pude para a minha idade. Do lado de fora da casa, me perguntei: se aquilo não era o demônio, o que seria? E senti que aqueles olhos trevosos buscaram em mim sentimentos guardados nas memórias que pensei ter esquecido. E me afundaram nas dores da mais profunda melancolia, que nunca mais me deixaria em paz. Quando erámos crianças, vendo uma colheitadeira ex