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Mostrando postagens de setembro, 2021

TRINTA E DOIS

              Nas memórias de Gunnar, a  gangue dos Irregulares, formada por ele e mais quatro amigos, estava reunida no porão do Cine Metrópolis, em meio a poeira e pôsteres amassados e manchados de filmes que ninguém tinha interesse em assistir. A péssima ideia do pai de Solveig de colocar em cartaz apenas filmes do cinema expressionista alemão ainda seria o principal motivo do Cine Metropolis fechar as portas antes do final daquele mês.                Gunnar era o mais jovem da gangue dos Irregulares, tinha 11 anos naquela época. Os mais velhos haviam adotado ele primeiramente como mascote, por acharem seu estilo parecido com o de Johnny Rotten, mas passaram a respeitá-lo como membro importante do grupo pelas suas atitudes. Já naquela idade Gunnar vivia arrumando confusão, quase nunca indo a escola, fumando os cigarros Chesterfield que roubava do pai, e quebrando janelas e vidraças por diversão. Estava sendo frequentemente recolhido pela polícia, e os pais já não sabiam o que fazer

LITZA

               Os tambores pararam quando os olhos de Cuauhtzin se arregalaram. Seu corpo cor de bronze e cheio de tatuagens ficou branco como papel e tombou de cabeça no chão de terra, aos pés do xamã.                Ele havia escolhido  o cesto com as cobras.               Cuauhtzin era um mentiroso!                A figura da jovem Litza, que havia voltado do buraco sem fundo, falava a verdade. Haviam demônios na floresta arrancando as cabeça dos índios. Com o sagui-peguimeu a tira colo, ela ainda em juramento disse que deveriam fugir para tentar sobreviver.             A tribo precisou deixar seus velhos para trás para subir o morro as pressas. No caminho as crianças apontavam  para a escuridão da mata e diziam ver olhos vermelhos e um sorriso cheio de dentes sujos de sangue.                Foram dias de profundo terror e noites cheias de pesadelos para essa pequena tribo. Se tivermos sorte, pensavam os homens, poderemos subir as montanhas e pedir abrigo aos mazatecas, que sempre f

EXPERIMENTO

              " Quase sempre eu via os fachos de luz invadindo a casa. Eu ia para debaixo da cama, com uma garrafa de café preto adoçado em excesso, e ficava lá até o meio-dia. Depois me arrastava para a sala e tentava organizar meus pensamentos escrevendo. A primeira coisa que escrevia era: eu odeio você, sol!".                O homem de chapéu bateu na porta do poeta albino Bernard Bernard. Era verão e o sol acertava aquela casa com força total. Ela era a única casa totalmente fechada na rua. O homem continuou batendo, e algumas pessoas olharam curiosas para aquela cena, que se repetia de tempos em tempos. Nenhuma delas alguma vez viu quem morava naquela casa. Eram apenas sons, vultos e boatos a seu respeito.               O  homem tirou o chapéu, mostrando uma calvície bastante avançada, e secou o suor da testa com um lenço. Depois desceu a rua, dobrou a esquina e deu a volta na quadra. Nos fundos da casa não haviam tantas pessoas para olhar. Ele pulou o pequeno muro e enf