AS MAÇÃS DA IMORTALIDADE

        Usando DMT para uma experiência de curar o estresse pós-traumático, referente a um situação de risco que sofreu há alguns anos atrás, Kael estava no meio do cemitério, cavando o túmulo do avô, com uma pá que havia acabado de comprar em uma ferragem de beira de estrada, no Condado de Louth. O avô de Kael lecionava história, e em algum momento a mente do rapaz se focou na antiga lembrança do homem contando o mito de Iduna para ele, quando Kael ainda era criança.

"Iduna e as Maçãs", de James Doyle Penrose, 1890

       De acordo com a mitologia nórdica, Iduna é a deusa da poesia, responsável pela imortalidade dos deuses de Asgard. Era ela que cuidava das maçãs do pomar sagrado, que tinham o poder do rejuvenescimento. A deusa trazia sempre maçãs consigo, em um cofre de madeira de freixo, e sempre que um deus estava muito velho, Iduna lhe dava uma de suas maçã, que segundo os deuses, além da mágica, tinham um sabor incomparável.

       Em pouco tempo o jovem Kael já havia cavado um grande buraco, e já estava quase atingindo o caixão. Ele não demonstrava estar cansado, mesmo sendo uma pessoa desacostumada a exercícios físicos daquele tipo. Em sua mente vinha a imagem da deusa Iduna, e o quanto deveria ser bela para que o gigante Tiazi tenha se transformado em águia e enfrentado os deuses nórdicos para tê-la ao seu lado.

       De repente Kael sentiu a tampa do caixão com a pá. Então começou a golpeá-la, como um homem descontrolado, com toda a força de seu corpo. Com isso não demorou para ele arrebentar a tampa do caixão, mas mesmo depois disso ele se manteve golpeado, até perceber que poderia estar acertando o avô.

       Por muita sorte o crânio estava intacto. Quando o trouxe para a superfície, Kael percebeu que ainda haviam fios de cabelo presos ao que restava do couro cabeludo. Mas qual era o objetivo de Kael até ali? Nem ele mesmo sabia, segurando o crânio do avô em um canto do cemitério, pensando sobre deuses extintos.