ASSOMBRAÇÃO


            Dereke estava digitando os últimos relatórios da noite, quando sentiu novamente aquela presença. Reparou nas luzes de emergência, e como elas deixavam o ambiente mais assustador, e derrubou sem querer o suporte de canetas no chão acarpetado quando ouviu o som de passos. Não tinha mais certeza se estava sozinho. 

            Os documentos foram abarrotados na maleta e Dereke caminhou a passos largos pelos corredores. Não aguentaria ver alguém ali. Apertou o botão do elevador com pressa e esperou, ouvindo os sons novamente, vindo na sua direção. Relutava em encarar as escadas. 

            Almas penadas são apenas formas espectrais de energia consciente, Dereke pensou. Vagam no espaço, presas ao mundo natural, só querendo quitar algumas dividas universais. Não é preciso ter medo delas, fazer escândalo, se urinar...

            Ele percebeu que o elevador não chegaria a tempo. Respirou fundo e abriu aquela porta, escorregando pelos degraus, em pânico total, esbarrando nas paredes. Quando estava prestes a chegar, perdeu o equilíbrio, torceu o tornozelo e rolou até o 13° andar.

            Aquela porta foi empurrada com força e dor. Era um andar inteiro com apenas um bebedouro vazio. Dereke mancou, olhando no relógio de pulso. Faltavam pouco menos de cinco minutos para às quatro da manhã. Quando entrou em sua sala, foi rápido para o canto mais escuro, que estava bem contrastado pela luz das estrelas e da lua cheia. 

            Passos, outra vez, passos.

            Não era a primeira vez que aquilo acontecia. Ele estava sendo perseguido por aquela presença estranha há algum tempo. Devia ser a mesma, com certeza, ele pensou. Se recusava a encará-la e sempre fugia quando a percebia. 

            Tremendo de medo e sentindo gosto de pólvora, ele a viu passar pela porta, vestindo roupas coloridas. Havia tirado os sapatos para não espantá-lo. Nos últimos segundos Dereke a reconheceu, vendo seus olhos azuis arregalados. "Ah, mas então é você!", ele pensou, encolhido naquele canto escuro.

            Aquela mulher chamou pelo seu nome várias vezes, mas já passava das quatro e Dereke não estava mais lá. Então calçou os sapatos, se sentindo maluca por tentar aquilo outra vez, e voltou para casa com sua descrença estabelecida.


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